Educar sem bater é possível
Especialistas diferenciam autoridade de autoritarismo e explicam os princípios para ter – e manter – a autoridade com seu filho.
Impor limites não é tarefa fácil para pai algum. Muitos têm medo de perder o
amor dos filhos por serem severos demais. Porém, a autoridade parental é indispensável
para educar, criar consciência e, consequentemente, começar a construir o
caráter das crianças. O importante é não confundir “criar regras” com “impor
vontades”. E é possível fazer isso tudo sem bater.
Adela Stoppel de Gueller, psicóloga e coordenadora do setor de Clínica e
Pesquisa do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientae,
chama atenção para o fato de que os pais são, inicialmente, a referência mais
importante de autoridade de uma criança – e não devem se esquecer disso nem
quando são enfrentados pelos filhos. “À medida em que as crianças crescem e vão
ganhando autonomia, elas questionam a autoridade parental e as leis da
sociedade. Nesse momento, é importante que os pais mostrem aos filhos que a
autoridade que eles detêm não é arbitrária, que não é um capricho”,
recomenda.
A psicóloga explica que discutir as decisões tomadas pode desgastar a
autoridade dos pais. “É importante que os pais, quando devem dizer não, não
tenham que ficar se justificando. Não é a explicação do ‘não’ que coloca as
crianças para pensar, é o ‘não’ puro e simples que faz com que elas reflitam
pela lei e pelos limites”, defende Adela. A educadora Cris Poli reforça o
argumento da psicóloga e afirma que, desde pequenos, temos que aprender que
vivemos em uma sociedade que tem limites. “Pais não podem temer deixar os filhos
frustrados porque vão negar algum pedido deles. Ensinar, colocando regras, é
educar”, fala a apresentadora do programa “Supernanny” (SBT).
Autoridade x autoritarismo
A linha entre autoridade e autoritarismo parece tênue. Porém, os dois conceitos são bastante distintos. Enquanto autoridade significa impor regras necessárias para um bom convívio, autoritarismo é sinônimo de imposição, uso excessivo de poder. Mara Pusch, psicóloga da Unifesp, diz que autoridade parental não deixa criança alguma retraída ou traumatizada. “Os pais precisam entender que autoridade é mostrar que você tem o poder de decisão sobre o seu filho. O problema é que, quando dessa decisão não é bem exposta às crianças, vira autoritarismo. O filho precisa enxergar que tem autonomia para escolher o que quer, mas que o seu desejo pode ser ou não realizado”.
A linha entre autoridade e autoritarismo parece tênue. Porém, os dois conceitos são bastante distintos. Enquanto autoridade significa impor regras necessárias para um bom convívio, autoritarismo é sinônimo de imposição, uso excessivo de poder. Mara Pusch, psicóloga da Unifesp, diz que autoridade parental não deixa criança alguma retraída ou traumatizada. “Os pais precisam entender que autoridade é mostrar que você tem o poder de decisão sobre o seu filho. O problema é que, quando dessa decisão não é bem exposta às crianças, vira autoritarismo. O filho precisa enxergar que tem autonomia para escolher o que quer, mas que o seu desejo pode ser ou não realizado”.
Autoridade: imposição de limites é parte
do processo de educar
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Uma criança se sente acuada quando sofre uma vigilância constante, quando há
controle em demasia sobre as suas ações. Adela destaca que, ao notarmos crianças
retraídas ou sufocadas, é preciso pensar que ela está sentido o peso da
autoridade como excessivo e que pode não ter forças para suportá-lo. “O
retraimento é como um refúgio para os filhos que se sentem assim. É importante
que os pais repensem seu lugar e escutem a criança. Às vezes, em alguns desses
casos, é a criança quem cria uma imagem de um pai extremamente autoritário e
isso não corresponde à realidade. Nessas horas, pode ser importante consultar um
especialista”, afirma a psicóloga.
O fim da palmada
Um projeto de lei do governo federal que prevê punição
para quem aplicar castigos corporais em crianças e adolescentes está tramitando
no Congresso Nacional. Sua aprovação, que é bastante provável, marcaria o fim da
era das palmadas e dos beliscões, tão conhecidos pelos adultos de hoje. A
discussão, que gera muita polêmica, é tratada por Cris Poli com naturalidade. A
educadora defende, desde sempre, que para educar não é preciso bater. “Métodos
de disciplina é que ensinam o que é certo e errado. Palmadas e puxões de orelha
são usados apenas pelos pais que não conseguem se impor e perdem a paciência com
os filhos”, fala. “Eu sequer vejo necessidade de uma lei para proibir isso. O
que precisamos é de uma campanha de conscientização disciplinar”, acrescenta a
educadora.
Mara defende o castigo como uma boa forma de punição para os filhos que
descumprem as regras da casa. Para a psicóloga, o castigo tem que ser algo que
tanto a criança quanto o adulto consigam cumprir. Não pode ser uma atitude
drástica. “Não adianta o pai ameaçar e não dar conta do recado. Se a criança só
fica tranquila com o videogame, e o pai tira isso completamente dela, não vai
funcionar. Não defendo castigos assustadores, pois isso gera medo”.
Adela
complementa o argumento da psicóloga dizendo que os pais devem refletir sobre os
castigos que impõem e admitir quando foram severos demais na hora de aplicá-los.
“Admitir um erro não implica em perder autoridade, ao contrário, é algo que pode
fortalecer os pais porque a criança vê ali um ser racional, que reflete sobre
suas ações”, diz.
Recuperando a Autoridade
Nunca é tarde demais para recuperar a autoridade com o seu filho. Pelo menos é o que dizem as três especialistas. Para Adela, antes de tentar resgatar o controle da situação em casa, os pais têm que olhar para si mesmos e recuperar a confiança em si. “Se conseguirem isso, os filhos vão perceber e passar a confiar na palavra deles”, explica.
Nunca é tarde demais para recuperar a autoridade com o seu filho. Pelo menos é o que dizem as três especialistas. Para Adela, antes de tentar resgatar o controle da situação em casa, os pais têm que olhar para si mesmos e recuperar a confiança em si. “Se conseguirem isso, os filhos vão perceber e passar a confiar na palavra deles”, explica.
Para os casos mais graves, quando as crianças já não respondem às regras e
fazem birra por qualquer coisa, Mara sugere terapia familiar. “Pode ser bom para
o pai entender por que perdeu a autoridade e visualizar a dinâmica da casa.
Normalmente, quem está dentro da situação não consegue enxergar direito. É
importante também perceber como a criança age em outros ambientes, se é sem
limites fora de casa”, recomenda.
Cris Poli afirma que o mais importante é que os pais se convençam de que a
autoridade está com eles e que educar é uma responsabilidade, não uma escolha.
“A minha experiência indica que o primeiro passo é assumir o papel de educador
dentro de casa e se posicionar com firmeza. A partir daí, o pai ou a mãe tem que
rever sua postura e tentar mudar o que está errado”, finaliza.
Fonte: http://delas.ig.com.br
Fonte: http://delas.ig.com.br